quinta-feira, 8 de novembro de 2018

No Desafio: 4 livros em 4 dias - O Quinze, Garp, Cabo de Vassoura, O Gigante Enterrado



Aceitei o desafio do Gabriel Márcio Xavier de publicar no Facebook sete livros (na verdade, publicarei só 4) que eu amo (na verdade, o critério de escolha não foi exatamente amor), sem explicações e sem análises, apenas a capa (na verdade, vou publicar uma foto do livro). A cada dia a partir de hoje, dia 8, até o dia 11 publicarei um livro e desafiarei um amigo para fazer o mesmo. Embora no Facebook não tenha explicações acerca das escolhas e do critério que usei para escolher os livros, aqui no blog haverá uma explicação e um breve comentário sobre cada um dos 4 livros e sobre a forma que usei para escolhê-los.

O critério que escolhi foi baseado naquela tradição dos casamentos. Sim, nada mais justo do que usar a simpatia para trazer sorte nos casamentos para trazer sorte para minha eterna união com a literatura. Assim, os quatro livros seguirão a seguinte regra: something old, something new, something borrowed, something Blue. Teremos, então, um livro velho, um livro novo, um livro emprestado e, por fim, um livro azul.

Dia 08-11-2018 / Quinta-feira / Livro Velho



Título: O Quinze
Autora: Rachel de Queiroz 
Ano da publicação: 1930 
Ano da edição: 1983
Editora: José Olympio
112 páginas
Leitura: Dezembro/2009

Esse exemplar veio de um sebo da minha cidade chamado "Letras no Jardim", inclusive o livro possui um carimbo do sebo na primeira página. A leitura desse livro foi solicitada pelo meu professor de Literatura Brasileira da faculdade, quando nossos estudos chegaram à segunda fase do modernismo. Houve um sorteio e para meu grupo saiu O Quinze, da Rachel de Queiroz, entre livros como Capitães de Areia e Menino de Engenho. Na época, eu não encontrei essa profusão de edições que há dessa obra atualmente a venda e o que me restou foi o exemplar surrado e velho do sebo. Encarei, pois haveria um seminário. Finalizei a leitura em Dezembro de 2009 e avancei cada página do livro procurando referências ao número 15, além da óbvia referência à grande seca de 1915. Minhas lembras da história são parcas. Sei que temos uma viagem sofrida de uma família de retirantes que viaja do sertão nordestino buscando condições melhores de vida. A busca por alimento é o que tenho de mais nítido na memória acerca dessa história. Curiosamente, lembro-me de uma mandioca venenosa que, possivelmente, causa ainda mais sofrimento àquela família.

Desafiado: Ross. Ele será o desafiado porque estava no meu grupo na faculdade que precisou ler esse livro. Infelizmente, acho que o Ross não leu o livro na ocasião.



Dia 09-11-2018 / Sexta-feira / Livro Novo



Título: O Mundo Segundo Garp
Título Original: The World According to Garp
Autor: John Irving
Ano da Publicação: 1976
Ano da edição: 2013
Editora: Rocco
607 páginas

O Mundo Segundo Garp é minha leitura atual e dizer que ela está caminhando vagarosamente é ser bondoso, ela está seguindo muito, muito devagar. Encontrei o John Irving na dedicatória do livro As fúrias Invisíveis do Coração e, depois de alguma pesquisa, descobri que o Garp é seu livro mais conhecido e premiado. Nele, acompanhei até agora a saga de Garp e de sua mãe, Jenny. Os dois decidiram ser escritores, mas de formas e por motivos bastante distintos. Na verdade, Jenny, apesar de ser enfermeira e de gostar disso, decidiu apenas escrever sua autobiografia, Uma Suspeita Sexual. Ela nunca quis seguir uma carreira literária, mas se sentia com algo importante a dizer. Jenny era uma mulher excêntrica e, talvez, muito progressista para sua época, prova disso é a concepção pouco usual de Garp. Assim, por incorporar essas questões, a autobiografia de Jenny acabou por se tornar o símbolo de um grande levante feminista e de uma onda de empoderamento feminino. Jenny se tornou um ícone desses movimentos. Já Garp, até onde já li, teve uma trajetória literária mais tortuosa. Ele decidiu se tornar escritor para se casar com a filha de seu treinador de luta livre, já que ela havia lhe dito despretensiosamente que gostaria de se casar com um escritor. A ideia surgiu daí, mas, ao longo dos anos, ela foi se moldando e fortalecendo ou fraquejando, em alguns momentos. Ainda estou na metade do livro e, por enquanto, Garp publicou seu primeiro romance, Procrastinação, que obteve sucesso mediano, e um segundo romance, O segundo Fôlego do Corno, que foi um quase total fiasco. Creio que a obra magna do nosso protagonista está na segunda metade do livro. Escolhi o Garp para o posto de "Livro Novo" por ser minha leitura atual e por consistir de uma história sobre um escritor, que é algo que tem chamado minha atenção ultimamente.

Desafiado: Jeffu. Ele será o desafiado porque um trecho do livro lembrou-me um conto que o Jeffu escreveu há uns anos. A protagonista do tal conto era uma prostituta (ela se chamava Amélia?) e, quando Garp e Jenny passam uma temporada em Viena, há a participação de uma prostituta muito elegante, que contribui de forma decisiva para a definição do tom que conduziria a autobiografia de Jenny. Infelizmente, esse arco da prostituta tem um desfecho trágico. Torço para que o Garp use isso em um dos seus romances que aparecerão na segunda metade do livro.



Dia 10-11-2018 / Sábado / Livro Emprestado



Título: Memórias de Um Cabo de Vassoura
Autor: Orígenes Lessa
Ano da Publicação: 1969
Editora: Ediouro Jovem
102 páginas
Leitura: Fevereiro/2011

Tenho muitas lembranças que envolvem esse livro. Desde quando aprendi a ler, minha mãe se empenhou em fazer com que eu o lesse. Infelizmente, eu resisti a todas essas tentativas. Eu me lembro de até ter tentado ler, no entanto, o livro não "aconteceu" para mim naquela época. Em minha casa nunca houve fartura de livros, na verdade, eu me lembro de 2: uma edição antiga de E O Vento Levou, que minha mãe parecia nunca terminar de ler, e o humilde Memórias de Um Cabo de Vassoura. Ainda não tive vontade de ler o  primeiro, entretanto, já depois de crescido e consciente de que uma das minhas missões aa terra era ler o livro sobre o cabo de vassoura, tomei a iniciativa, peguei o livro emprestado com minha mãe e li em Fevereiro de 2011. No livro, acompanhamos literalmente a jornada de um cabo de vassoura, talvez seja uma espécie de coming of age de um cabo de vassoura. Eu diria que é uma espécie de autobiografia que vai nos guiando pelos momentos amargos e felizes, que nunca imaginamos que a vida de um cabo de vassoura pudesse ter. Enquanto o próprio cabo nos conta sua história, há várias oportunidades de refletirmos sobre a exploração de madeira e o uso consciente dela. Gostaria de destacar alguns momentos celebres em que o cabo de vassoura, enquanto madeira e com várias possibilidades para o futuro, imagina quais "profissões" ele pudesse ter, talvez se tornar uma obra de arte esculpida pelo Aleijadinho ou o casco de um navio que viajaria o mundo, o que certamente seria mais emocionante do que se tornar um caixão de defunto, por exemplo. Gosto de ressaltar que imagino que, para quem já foi árvore, mesmo aquelas que não rendem muito lucro para os homens, mas ainda assim uma árvore, deve ser absurdamente frustrante ser condenado a passar a vida varrendo o chão.

Curiosidade: quando li, em um momento da história, percebi certas semelhanças entre alguns elementos da história com o filme Toy Story, da Pixar. Seria pura coincidência?

Desafiado: Matheus. Ele será o desafiado pelo simples fato de eu achar que esse livro combina muito com ele. Matheus, se ainda houver uma vaga na sua lista de futuras leituras, leia Memórias de Um Cabo de Vassoura.



Dia 12-11-2018 / Segunda-feira / Livro Azul


Título: O Gigante enterrado
Título Original: The Buried Giant
Autor: Kazuo Ishiguro
Ano da Publicação: 2015
Editora: Companhia das Letras
396 páginas
Leitura: Abril/2016

O livro azul! Acho que não existe no mundo (ou, pelo menos, no Brasil)  um livro mais azul do que essa edição de O Gigante Enterrado. Minha história com esse livro é simples, porém gratificante. Em primeiro lugar, vi a capa e ela me conquistou imediatamente com seu ar de fantasia. Em segundo lugar, o autor chamou minha atenção, um japonês que se mudou para a Inglaterra ainda criança, premiado e aclamado (na época, ele ainda não havia ganhado o nobel). Em terceiro lugar, a sinopse intrigante. Aí, eu senti a confirmação de que precisava daquele livro. Fiquei alguns dias de olho nas promoções, e por obra de algum benfeitor sobrenatural, o desconto veio e eu comprei e comecei a leitura assim que ele chegou. A história acompanha a viagem de um casal de idosos, Axl e Beatrice, que sai em busca de seu filho de quem mal se lembram. As lembranças, a memória individual e coletiva, têm papel importante na trama. A tal falta de lembranças não é um evento acidental. Ela supostamente é causada por influência de uma dragoa que produz uma nevóa que, ao se espalhar por toda a região, estaria fazendo com que as pessoas esquecessem, com que elas perdessem suas memórias. Daí, surgem importantes questionamentos, como o papel das lembranças felizes e tristes na construção e manutenção das relações sociais, familiares e até  em aspectos intrapessoais. Como ficaria o amor ou mesmo o ódio em  um mundo quase sem lembranças? O que justificaria esses sentimentos? Ao mesmo tempo que o valor das recordações é evidenciado, há também o outro lado, o papel do esquecimento, de deixar as coisas no passado, para que seja possível a continuidade de relações já desgastadas por equívocos e decepções antigas.

Desafiado: Higor. Será o desafiado da vez pelo simples fato de esse livro ser de um ganhador do Nobel.
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