sábado, 29 de dezembro de 2018

Nas Páginas: Todos Os Dias Mortos de Dois Mil e Dezoito


Natal é uma época em que quase tudo tenta fazer as pessoas felizes, mas (para mim) pode ser complicado manter a mente longe dos já famosos espíritos do natal. Alguém poderia dizer que o espírito do natal é mais uma daquelas entidades que só querem nos ver felizes, no entanto, no meu caso e no de uma parcela significativa das pessoas, o espírito de natal vem junto com uma aura que mescla melancolia e felicidade, nem sempre na mesma proporção.


Embalado por essa aura, lembrei-me de 3 livros que, de alguma forma, se relacionaram com os meus natais. O primeiro foi uma leitura que fiz em 2008 (há 10 anos!!!), O Sussurro das Bruxas, da autora Anna Dale. Um livro juvenil que, segundo minhas próprias anotações, é muito legal. O fato é que não me lembro da trama do livro, mas pode ser que ela trate de uma busca por uma folha roubada de um grimório poderoso. Lembro-me de um plot twist: enquanto todo mundo pensava que o ladrão estava interessado no conteúdo da página 47, suponhamos, que , na verdade, ele cobiçava o que estava na página 48, no verso da folha roubada. Entretanto, não é pela trama que esse livro está aqui. Lembro-me com clareza do momento em que terminei a leitura dele. Era manhã de natal e uma época com menos preocupações, acordei um pouco antes do tradicional momento de abrir presentes da minha família e li as últimas páginas do livro. O que me surpreendeu foi que as últimas palavras do livro são: FELIZ NATAL. Será que a tal Anna Dale é muito mais do que uma escritora de livros juvenis? Talvez uma profeta? Quando li aquelas palavras finais, senti que estava fazendo a coisa certa, na hora e da forma certas. Não seria uma simples coincidência, mas uma espécie de confirmação de que até aquele 25 de dezembro de 2008, mesmo com muitos momentos desconjuntados, as coisas acabaram por se alinhar e me trouxeram àquele "feliz natal" como uma espécie de carimbo que dizia: respire, tá tudo certo até agora. Uma bobagem, né? Mas isso passou pela minha cabeça.


O segundo livro é O Livro dos Dias Mortos do britânico Marcus Sedgwick. O título um pouco mórbido se refere aos dias entre o natal e o ano novo, as 5 noites em que os espíritos dos mortos estão mais próximos do nosso mundo. Por coincidência, estamos exatamente nesses tais dias e foi inevitável falar sobre esse livro. Sobre a trama dele só me lembro que há um menino órfão e uma mistura de ciência e magia. O que tenho para contar é que quando eu estava lendo esse livro, em julho de 2013, deitado em uma cama desconfortável de um hospital, uma médica tentou me animar puxando conversa perguntando o título do livro. Assim que eu respondi, ela botou uma cara arrependimento no rosto, o que fez com que eu também me arrependesse imediatamente por estar lendo aquele livro, naquele momento e naquele maldito hospital. Eu não havia me dado conta de que talvez fosse inadequado ou pouco auspicioso ler O Livro dos Dias Morto enquanto se está no hospital, e muitas pessoas estão questionando sua postura diante de um tratamento, digamos, desconfortável e que poderia se estender por tempo indeterminado.


Por fim, o livro Antes do Baile Verde, da Lygia Fagundes Telles, e seu conto Natal na Barca. Eu vi em algum lugar que havia um conto de natal da Lygia nesse livro e como havia uma edição antiga dele perdida na minha estante de livros perdidos, decidi resgatá-lo e ler o tal conto no dia 25. O conto Natal na Barca é daqueles que captam apenas um recorte de um processo mais longo e complexo, terminamos o conto sem conhecer o início do tal processo ou mesmo seu desfecho. A trama trata de uma mulher meio descrente da vida que, em plena noite de natal, está fazendo a travessia de um rio em uma barca e ela só quer fazer esse translado em paz. No entanto, na barca, ela encontra uma mãe com seu bebê. Foi inevitável uma comparação com Maria e Jesus recém nascido, ainda mais depois de: "Era uma mulher jovem e pálida. O longo manto escuro que lhe cobria a cabeça dava-lhe o aspecto de uma figura antiga." Depois disso, para mim, a mulher já virou Maria. Mas, aos poucos, a medida que a mulher foi revelando seu passando abruptamente humano e injusto, a comparação com Maria foi se diluindo na mulher incansável que surgiu. Perto do fim, temos um surpresa que me fez fechar o livro e pensar: esse povo vai ter um natal pior do que o meu! Mas aí, no último instante, temos outra surpresa milagrosa. O que pensar desse conto e, sobretudo, dessa surpresa derradeira? Ainda não sei. Talvez que a capacidade de acreditar, de ter fé (não uma fé religiosa, mas uma fé mais primitiva) seja capaz de nos trazer coisas melhores? Ainda não sei e, talvez, eu precise de um pouco mais dessa fé para me aproximar de algum pensamento que faça sentido.

Sejam felizes e tenham, pelo menos, um pouco de fé em vocês mesmos.
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