terça-feira, 30 de outubro de 2018

Nas Páginas: Samanta Schweblin, Garp, Alarcón, Capote e até um pouco de Boyne


Outubro não passou totalmente em branco, li o primeiro conto da revista Granta volume 1 (em português). Um conto do Daniel Alarcón, chamado O Rei Sempre Está Acima do Povo. O conto me surpreendeu pela escrita e me desagradou pelo tamanho. Sabe aquelas histórias que mereciam ser romance, mas nasceram conto? Pois esse é o caso do conto do Alarcón e, por isso e um pouquinho também por ser o livro favorito de um amigo, acabei comprando um romance dele, À Noite Andamos em Círculos (é claro que ser um livro da Alfaguara, minha recente paixão editorial, também contou). Li também o conto Despedida do Primeiros Contos do Capote (será que o primeiro conto de um livro chamado Primeiros Contos é o primeiro conto que o Capote escreveu na vida?). Conto interessante, simples e com algumas sutilezas nas entrelinhas.


Em Outubro, também comecei a ler meu primeiro John Irving, O Mundo Segundo Garp. John Irving chegou até mim por meio do John Boyne. Sim, um John trazendo outro. O livro As Fúrias Invisíveis do Coração, do Boyne e que li em Agosto, foi dedicado ao John Irving, até então desconhecido para mim. Ao logo do Fúrias, o protagonista Cyril lê uma versão holandesa de O Mundo Segundo Garp (Cyril é Irlandês). Então, depois da leitura do Fúrias e da nada sutil dica da dedicatória do Boyne, pesquisei sobre o Irving e não pude deixar de ler o Garp (os 4 livros do Irving que encontrei a venda por aqui me interessaram, mas as edições descuidadas da Rocco - papel branco e fino, letra miúda - acabaram me desmotivando. Enfim, depois de solicitar uma troca porque o livro chegou avariado e da decepção com a edição, comecei a ler o Garp. Ainda não terminei (ha-ha-ha), estou em algum lugar próximo da metade do livro, mas posso dizer que estou gostando. Garp é alguém que decidiu ser escritor e sua história vai delineando os elementos que fomentariam, de forma desconstruída e embaralhada, seus escritos literários. O livro não está me agradando 100%, tenho que citar um trecho, que acabei de ler, sobre a mãe sem nome de um amigo do filho de Garp como algo, digamos, desagradável, fora isso, a experiência tem sido interessante. O que eu gostaria de comentar é que uma característica do comportamento do Garp e algumas decisões e pensamentos dele remeteram a outro livro que li há pouco tempo, o último antes da escuridão total sem leituras (desculpe, King).


Garp é superprotetor com os filhos. Ele se preocupa absurdamente com seus filhos. Ele tem medo de coisas improváveis acontecerem, acidentes, coincidências e a uma simples insinuação de que o universo pode, talvez, estar cogitando uma fatalidade, Garp já repassa todas as implicações desse suposto desastre. Por exemplo, o filho diz que vai de bicicleta para a casa do amigo e Garp já imagina que um adolescente recém habilitado que estava bebendo vinho barato em um posto de gasolina viria em alta velocidade, não veria a placa de pare e passaria por cima da cabeça de seu filho esmagando seus miolos no asfalto quente (isso me lembrou a música Oitavo Andar da Clarice Falcão). Essa superpreocupação muitas vezes injustificada me lembrou a distância de resgate do livro homônimo de Samanta Schweblin. Nele, a personagem Amanda tem essa mesma obsessão por proteção e dela vem a ideia de distância de resgate. Ela seria a distância variável que separa Amanda da filha, distância de resgate seria a distância que Amanda precisaria percorrer para impedir que algo aconteça à Nina. Amanda é obcecada por calcular a distância de resgate e, segundo ela mesma, Nina está quase sempre mais longe do que deveria.


Em A Distância de Resgate, temos uma história misteriosa que nos é contada a partir de relatos dentro de relatos, num intricado jogo de narradores e pontos de vista. É uma história sobre uma contaminação por agrotóxicos em uma região rural. No entanto, não temos uma visão geral disso, só a dos personagens principais, de Amanda e sua filha, Nina, e de Carla e seu filho, David. Não posso deixar de mencionar o lado sobrenatural e místico da história que, apesar de se confundir um pouco com as tentativas do povo local de driblar a ignorância, é um importante elemento da história. Começamos o livro com muitas dúvidas, as incertezas vão diminuindo ao longo da história e, no fim, acho que 30% delas ainda permanecem. Terminei o livro há 3 meses, mas ainda não fui capaz de avaliá-lo no Skoob. Certamente, eu gostei, só não consegui mensurar isso em estrelas ainda.

Continuarei lendo a segunda metade do Garp e espero retomar um ritmo, pelo menos, um pouquinho mais acelerado de leitura em Novembro.
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