Gostaria de fazer algo
especial para A Casa dos Espíritos, no entanto, não consegui pensar em algo que
me agradasse ou que tivesse à altura do livro, por isso, corri o risco de me tornar um fantasma ao deixar esse assunto pendente. Isso não poderia ter
acontecido! A Casa dos Espíritos é o livro de que mais gostei dos últimos tempos e até recebeu uma estrelinha de favorito (está ao lado do intocável A História
Sem Fim). Então, para não deixar esse livro incrível sem um texto aqui, decidi
escrever algo mais simples sobre ele. É melhor algo mais simples do que nada,
né?
Pois vamos lá. Em A Casa dos
Espíritos acompanhamos três gerações de uma família e são as mulheres que
conduzem o viés dessa história (embora o patriarca Esteban Trueba também tenha
sua devida parte). Em primeiro lugar, temos Clara del Valle que é a matriarca e
o poderoso alicerce de toda a história. É ao redor dela que a mágica dessa
história acontece. Clara é uma mulher forte, mas que vive dividida entre esse
mundo em que vivemos encarcerados e um mundo que nos é raramente permitido
vislumbrar. São vários os momentos em que Clara nos brinda com sua
excentricidade e faz das páginas desse
livro muito mais do que o que está escrito nelas. Arrisco-me a dizer que ela é
a imperdoável culpada por grande parte da atmosfera onírica e improvável que
tanto me fascinou. Em seguida, surge o protagonismo da
segunda del Valle, Blanca, a querida filha de Clara. Blanca é uma figura mais
terrena. Ela não está tão conectada com o sobrenatural quanto sua mãe, no
entanto, percebemos nela traços dos mistérios da família del Valle. No caso dela, eles se manifestam sutilmente. Blanca vive várias frustrações amorosas (talvez
todas se resumam em apenas uma) e tem um destino sinuoso pelo qual ela parece
caminhar sem saber ao certo o que está fazendo (ao contrário de sua mãe que
parece saber todos os detalhes do que acontecerá). Considero Blanca, a del Valle
com quem menos me conectei, embora seja impossível não se sensibilizar com os
infortúnios que quase esmagam todas as suas esperanças. Por fim, como última
del Valle a aparecer na história, temos Alba, neta de Clara. Alba tem os
cabelos verdes como os de sua tia-avó Rosa e leva consigo o idealismo de sua
bisavó, Nívea. Ela cresce em um país caótico que busca se livrar de um governo
de direita opressor, do qual seu avô, Esteban, faz parte. Alba é destemida,
prática e luta pelo que acredita, pelos que ama, e não poderia deixar de se
envolver nesse embate político. Recai sobre Alba, o peso do passado de sua
família e é por meio dela que o possivelmente detestável Esteban encontrará
alguma redenção e uma porção de paz.
Gosto de pensar nas mulheres dessas três gerações como facetas de um único ser. Clara representaria o lado espiritual. Sua ligação com o místico, seus poderes de clarividência, a telecinese e mesmo sua presença que parece pouco pertencer a esse plano terrestre. Clara, para mim, é a conexão com algo maior, com a magia. Percebemos isso na própria história, fica evidente que os elementos fantásticos quase desaparecem depois da morte de Clara, depois que ela decide morrer. Clara é o espírito. Na outra faceta, temos Blanca que representa o corpo. Blanca se entrega desde jovem a uma paixão desenfreada que ultrapassa todos os obstáculos que o mundo (pode-se entender que, quando digo mundo, estou querendo dizer Esteban Trueba) impõe a esse amor, a essa paixão. Blanca se satisfaz com a paixão, com o amor terreno, o amor dos homens (ou de um homem só). Ela é simples, está ali para viver o mundo, seus desejos e anseios são diretos. Por isso, digo que Blanca é o corpo. Por fim, completando essa trindade, temos Alba que ocupa a faceta da razão, da mente. Alba é aquela que racionaliza a história de sua família; que, na medida do possível, repreende seu avô; é aquela que luta por seus ideais; é aquela que não só enxerga problemas, mas que também busca soluções. Assim, Alba representa a mente. As três gerações del Valle: espírito, corpo e mente.
Obviamente estou sendo injusto com esse livro, já que enxergo nele centenas de outros pontos e questões que poderiam render reflexões muito interessantes, como o golpe militar Chileno que dilacerou o país, as relações dos vários personagens que permeiam as vidas dos del Valle (eu preciso mencionar a Férula Trueba, Barrabás, Nicolas e Jaime, os Pedros Garcia, são muitos e incríveis), as aventuras sobrenaturais de Clara, os desalentos amorosos. É um livro maravilhoso. Sou muito grato por ter lido essa história e agora uma parte do meu coração pertence à Isabel Allende e à família Del Valle.
Gosto de pensar nas mulheres dessas três gerações como facetas de um único ser. Clara representaria o lado espiritual. Sua ligação com o místico, seus poderes de clarividência, a telecinese e mesmo sua presença que parece pouco pertencer a esse plano terrestre. Clara, para mim, é a conexão com algo maior, com a magia. Percebemos isso na própria história, fica evidente que os elementos fantásticos quase desaparecem depois da morte de Clara, depois que ela decide morrer. Clara é o espírito. Na outra faceta, temos Blanca que representa o corpo. Blanca se entrega desde jovem a uma paixão desenfreada que ultrapassa todos os obstáculos que o mundo (pode-se entender que, quando digo mundo, estou querendo dizer Esteban Trueba) impõe a esse amor, a essa paixão. Blanca se satisfaz com a paixão, com o amor terreno, o amor dos homens (ou de um homem só). Ela é simples, está ali para viver o mundo, seus desejos e anseios são diretos. Por isso, digo que Blanca é o corpo. Por fim, completando essa trindade, temos Alba que ocupa a faceta da razão, da mente. Alba é aquela que racionaliza a história de sua família; que, na medida do possível, repreende seu avô; é aquela que luta por seus ideais; é aquela que não só enxerga problemas, mas que também busca soluções. Assim, Alba representa a mente. As três gerações del Valle: espírito, corpo e mente.
Obviamente estou sendo injusto com esse livro, já que enxergo nele centenas de outros pontos e questões que poderiam render reflexões muito interessantes, como o golpe militar Chileno que dilacerou o país, as relações dos vários personagens que permeiam as vidas dos del Valle (eu preciso mencionar a Férula Trueba, Barrabás, Nicolas e Jaime, os Pedros Garcia, são muitos e incríveis), as aventuras sobrenaturais de Clara, os desalentos amorosos. É um livro maravilhoso. Sou muito grato por ter lido essa história e agora uma parte do meu coração pertence à Isabel Allende e à família Del Valle.
Título: A Casa dos Espíritos
Título Original: La Casa de los Espiritus
Autora: Isabel Allende
Tradução: Carlos Martins Pereira
Editora: Bertrand Brasil
Páginas: 448
Ano: 1982
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