domingo, 28 de janeiro de 2018

No Cinema: A Forma da Água


A Forma da Água foi meu segundo filme da maratona do Oscar 2018 (2 de 9). Entre os nove indicados, esse foi o filme que me deixou mais animado para assistir. Há algum tempo, eu havia visto o trailer e a expectativa  para o filme ficou lá em cima, mesmo bastante tempo antes de seu lançamento. Mas  não foi sem motivo, havia alguns atrativos que ajudaram a fazer com que eu ficasse interessado no filme. O primeiro era, sem dúvida, a direção de Guillermo Del Toro. Ele foi o criador de filmes que estão no meu coração, como O Labirinto do Fauno (direção e roteiro),  Hellboy (direção e roteiro) e Não Tenha Medo do Escuro (roteiro). O segundo ponto foi o fato de já no trailer ser possível perceber elementos que eu adoro ver em filmes: uma protagonista estranha, uma mistura entre realidade e fantasia, e uma ambientação peculiar. Ainda por cima, para aumentar ainda mais a empolgação, o filme foi indicado a 13 Oscars, o recordista desse ano. Isso pode não significar automaticamente que eu vá amar o filme (nem sempre a gente gosta dos filmes indicados ao Oscar, né?), mas, de certo, indica que ele é um grande filme.


À primeira vista, o enredo de A Forma da Água pode parecer simples e, até mesmo, batido. Na história, uma criatura incomum, uma espécie de homem anfíbio, é levada para um laboratório experimental americano durante a guerra fria, na década de 60. A criatura é submetida a experiências, é maltratada e mantida em cativeiro com a suposta justificativa de que esses experimentos poderiam dar alguma vantagem aos americanos frente aos soviéticos. Apesar do clima pesado e perturbador, uma faxineira muda, Elisa, cria um laço  amoroso com a criatura. Então, motivada por esse sentimento, Elisa elabora um ousado plano para libertá-la. Com essa proposta relativamente simples, o filme encontra sua personalidade ao apresentar personagens interessantes que colorem a nebulosidade da trama com suas particularidades.


Em primeiro lugar a protagonista muda, Elisa. Ela leva uma vida regrada e seus dias são monótonos, se resumem à rotina em casa, ao convívio com seu vizinho Giles e ao trabalho como faxineira no laboratório secreto do governo. O dia-a-dia no emprego só não é pior por causa de Zelda, sua amiga inseparável. Elisa parece ser uma expectadora de sua própria vida, que encara dias com certa apatia e, até mesmo, um pouco de desesperança. No entanto, ela tem uma visão peculiar do mundo, que busca um pouco de satisfação e alegria nas pequenas coisas. Um olhar que sobrevive mesmo em um mundo que a empurrou para a margem, que lhe trata como defeituosa. É o olhar de Elisa que dá o tom do filme, é ele que nos ajuda a enxergar a delicadeza naquele ambiente conflituoso. Então, Elisa enxerga a criatura e se identifica com ela, daí surge um amor. A relação com a criatura traz frescor para a vida de Elisa, novos significados, novas possibilidades. 


Em segundo lugar, estão os personagens coadjuvantes mais próximos de Elisa, Giles e Zelda. Giles é vizinho de Elisa e o responsável por trazer alguma felicidade à vida dela, enquanto Elisa não está no trabalho. Giles é gay e um artista frustrado de  meia idade que vê seus desenhos para campanhas publicitárias serem substituídos por fotografias e suas oportunidades de trabalho minguarem. A frustração com o mundo, além de tomar sua vida profissional, também se alastra por sua vida amorosa e contamina até mesmo sua autoestima. Giles também é um desajustado. O mundo parece reprovar todas as suas tentativas de alcançar algum sucesso. Por fim, temos Zelda, a companheira de trabalho de Elisa. Zelda é negra, dona de casa e faxineira. Ela tem um casamento difícil e sofre todo o desprezo que a sociedade americana tinha pelos negros naquela época. Zelda é um pouco caricata, tem a língua afiada, e dá a pitada de irreverência que a história precisava.


Somando-se ao grupo de personagens desajustados, temos a criatura aquática. Ela é desrespeitada e tem suas necessidade negligenciadas pelos cientistas e seguranças do laboratório. Seus captores querem tirar a qualquer custo todo o proveito possível de sua existência. A criatura é hediondamente explorada e torturada. Assim, temos o último elo do grupo dos incompreendidos, o monstro, o diferente. É sobre esses seres incompreendidos (completamente humanos ou não) que A Forma da Água trata, sobre o incomum, o peculiar. Del Toro contou uma história de fantasia madura, uma espécie de fábula que, em algumas vezes, é encantadora e, em outras, é violenta e implacável. Vemos o improvável acontecer, vemos a complexidade dos desejos e sentimentos humanos, vemos um pouco de mágica em um mundo essencialmente cruel.


Os atores que interpretam Elisa, Giles e Zelda, foram indicados respectivamente ao Oscar nas categorias de melhor atriz e melhor ator e atriz coadjuvantes. Isso é só o resultado do trabalho incrível que fizeram. Eu destacaria a atuação de Sally Hawkins que está sensacional nesse filme. Além disso, gostaria de destacar também a trilha sonora que conferiu o tom certo à cada cena da história.  Enfim, esse foi meu comentário sobre o segundo filme dos indicados ao Oscar 2018 na categoria de melhor filme. Aparentemente, esse é o único representante de fantasia nessa categoria, o que é uma pena. Vamos adiantar a escrita desses comentários que ainda há muitos filmes pela frente.


Título: A Forma da Água
Título Original: The Shape of Water
Direção: Guillermo Del Toro
Ano: 2017 (2018 no Brasil)
Duração: 2h 3min
Elenco Principal: Sally Hawkins (Elisa), Michael Shannon (Richard Strickland), Richard Jenkins (Giles), Octavia Spencer (Zelda) e Michael Stuhlbarg (Dr. Robert  Hoffstetler)






Compartilhe:

0 comentários:

Postar um comentário