sexta-feira, 11 de maio de 2018

Nas Páginas: Velórios - Rodrigo M. F. Andrade


Um livro quase perdido do Modernismo brasileiro. Descobri esse livro perdido entre as promoções da Cosa Naify da Amazon. Capa intrigante, título atrativo (adoro histórias sobre morte), ótimas avaliações e preço em conta. Comprei, li e gostei muito. Descobri no prefácio, escrito por Pedro Dantas que os 8 contos que compõem esse livro são os únicos textos literários de Rodrigo M. F. Andrade e que ele não via com bons olhos a ideia de uma reedição de Velórios. Em sua primeira publicação, o livro teve uma tiragem minúscula e pouquíssimas pessoas tiveram acesso a um exemplar. Talvez, esse seja um dos motivos de Velórios e o próprio Rodrigo serem quase completamente desconhecidos. Eu soube também que, apesar de não tomar frente no movimento modernista e nem na semana de arte moderna de 1930, Rodrigo M. F. Andrade teve uma atuação importante nos bastidores de toda essa reconfiguração artística. Além disso, Rodrigo era amigo próximo de grandes personalidades brasileiras da literatura e da arte, como Mário de Andrade, que, inclusive, escreveu uma carta para o amigo falando sobre Velórios (a carta está no fim dessa edição do livro).
 
Cândido Portinari, Antonio Bento, Mario de Andrade e Rodrigo M. F. de Andrade em 1936

Vamos aos contos. Enquanto li, fiz um histórico das leituras conto por conto no skoob. Aproveitando isso, ampliei alguns desses comentários e trouxe as considerações para cá.

1º Conto - D. Guiomar: uma história simples que fala de questões importantes, como machismo, família, infidelidade e submissão. Ressalto as atitudes incomuns da personagem que dá nome ao conto. O tom improvável, mas também realista, fez com que eu me lembrasse das histórias do cineasta Pedro Almodóvar.

2º Conto - Martiniano e a campesina: um conto sobre cotidiano e, dessa vez, a morte já aparece na primeira frase. Além do defunto excêntrico que teve uma vida possivelmente atormentada pela esposa, temos um rapaz apaixonado, a própria esposa meio megera e um amigo injuriado (e um pouco aliviado) pela morte de Martiniano.

3º Conto - Quando Minha Avó Morreu: um conto escrito sob a perspectiva de uma criança acerca da morte de sua avó com quem ele não tinha muito contato. Percebemos que as pessoas sentem e vivem o luto de formas diferentes, sobretudo, quando se trata de crianças.

4º Conto - Seu Magalhães Suicidou-se: será que todo mundo vira santo depois de morto? Até mesmo os suicidas? É certo remoer os erros dos falecidos? Se eles não estão mais aqui para se defender, só nos resta aceitar o que fizeram de errado? Nesse conto temos algumas situações que nos trazem essas perguntas ao serem reveladas coisas improváveis sobre o tal Seu Magalhães.

5º Conto - O Enterro de Seu Ernesto: nesse conto temos o confronto entre a viúva do Seu Ernesto e suas cunhadas. D. Amália, a viúva, apesar de ter amado muito seu marido em vida, é incapaz até mesmo de olhar para seu cadáver. Será que essa repulsa pelo defunto indício (ou confirmação) de que ela é uma aproveitadora e não amava o marido? As cunhadas têm certeza que sim.

6º Conto - Iniciação: A morte como castigo. Um conto narrado por um jovem. Vemos uma história acerca da descoberta da sexualidade. Vemos também o quanto o fanatismo religioso ou mesmo a ignorância pode ser prejudicial para a educação e desenvolvimento de crianças e adolescentes. Pensar ou fazer com que alguém acredite que a morte é um castigo justo para compensar algum suposto pecado é, para mim, inadmissível.

7º Conto - O Príncipe dos Prosadores: o conto mais curto. Nele temos o velório de um provável grande escritor, mas que não teve tempo em vida de ser reconhecido.

8º Conto - O Nortista: o conto mais longo e creio que o em que a morte é menos importante. Temos um imigrante do Pará que conseguiu ter sucesso quando mudou para Rio com o intuito de ter um vida melhor. Tornou-se um homem rico e influente, mas acabo se tornando uma pessoa esnobe. O nortista, então, é acometido por uma doença e precisa tratá-la urgentemente. Por isso, ele contrata o narrador-personagem como seu médico-assistente e se exila em um sítio no interior de Minas Gerais. A partir daí, acompanhamos a relação conturbada dos dois.

Os contos não possuem clímax e talvez, por isso, não tenham me impactado tanto. Apesar disso, eles levantam temas importantes e apresentam situações que nos levam à reflexão. Esses 8 contos merecem ser lidos e Rodrigo M. F. Andrade precisa sair da obscuridade.


Título: Velórios
Autor: Rodrigo M. F. Andrade
País: Brasil
Editora: Cosac Naify
Páginas: 143
Ano: 2004


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