Um livro quase perdido do
Modernismo brasileiro. Descobri esse livro perdido entre as promoções da Cosa
Naify da Amazon. Capa intrigante, título atrativo (adoro histórias sobre
morte), ótimas avaliações e preço em conta. Comprei, li e gostei muito.
Descobri no prefácio, escrito por Pedro Dantas que os 8 contos que compõem esse
livro são os únicos textos literários de Rodrigo M. F. Andrade e que ele não via
com bons olhos a ideia de uma reedição de Velórios. Em sua primeira publicação,
o livro teve uma tiragem minúscula e pouquíssimas pessoas tiveram acesso a um
exemplar. Talvez, esse seja um dos motivos de Velórios e o próprio Rodrigo
serem quase completamente desconhecidos. Eu soube também que, apesar de não
tomar frente no movimento modernista e nem na semana de arte moderna de 1930,
Rodrigo M. F. Andrade teve uma atuação importante nos bastidores de toda essa
reconfiguração artística. Além disso, Rodrigo era amigo próximo de grandes personalidades brasileiras da literatura e da arte, como Mário de Andrade, que, inclusive, escreveu uma carta para o amigo falando sobre Velórios (a carta está no fim dessa edição do livro).
Vamos aos contos. Enquanto li,
fiz um histórico das leituras conto por conto no skoob. Aproveitando isso, ampliei alguns desses comentários
e trouxe as considerações para cá.
1º Conto - D. Guiomar: uma
história simples que fala de questões importantes, como machismo, família,
infidelidade e submissão. Ressalto as atitudes incomuns da personagem que dá
nome ao conto. O tom improvável, mas também realista, fez com que eu me lembrasse
das histórias do cineasta Pedro Almodóvar.
2º Conto - Martiniano e a
campesina: um conto sobre cotidiano e, dessa vez, a morte já aparece na
primeira frase. Além do defunto excêntrico que teve uma vida possivelmente
atormentada pela esposa, temos um rapaz apaixonado, a própria esposa meio
megera e um amigo injuriado (e um pouco aliviado) pela morte de Martiniano.
3º Conto - Quando Minha Avó
Morreu: um conto escrito sob a perspectiva de uma criança acerca da morte de
sua avó com quem ele não tinha muito contato. Percebemos que as pessoas sentem
e vivem o luto de formas diferentes, sobretudo, quando se trata de crianças.
4º Conto - Seu Magalhães
Suicidou-se: será que todo mundo vira santo depois de morto? Até mesmo os
suicidas? É certo remoer os erros dos falecidos? Se eles não estão mais aqui
para se defender, só nos resta aceitar o que fizeram de errado? Nesse conto
temos algumas situações que nos trazem essas perguntas ao serem reveladas
coisas improváveis sobre o tal Seu Magalhães.
5º Conto - O Enterro de Seu
Ernesto: nesse conto temos o confronto entre a viúva do Seu Ernesto e suas
cunhadas. D. Amália, a viúva, apesar de ter amado muito seu marido em vida, é
incapaz até mesmo de olhar para seu cadáver. Será que essa repulsa pelo defunto
indício (ou confirmação) de que ela é uma aproveitadora e não amava o marido?
As cunhadas têm certeza que sim.
6º Conto - Iniciação: A morte
como castigo. Um conto narrado por um jovem. Vemos uma história acerca da
descoberta da sexualidade. Vemos também o quanto o fanatismo religioso ou mesmo
a ignorância pode ser prejudicial para a educação e desenvolvimento de crianças
e adolescentes. Pensar ou fazer com que alguém acredite que a morte é um
castigo justo para compensar algum suposto pecado é, para mim, inadmissível.
7º Conto - O Príncipe dos
Prosadores: o conto mais curto. Nele temos o velório de um provável grande
escritor, mas que não teve tempo em vida de ser reconhecido.
8º Conto - O Nortista: o conto
mais longo e creio que o em que a morte é menos importante. Temos um imigrante
do Pará que conseguiu ter sucesso quando mudou para Rio com o intuito de ter um
vida melhor. Tornou-se um homem rico e influente, mas acabo se tornando uma
pessoa esnobe. O nortista, então, é acometido por uma doença e precisa tratá-la
urgentemente. Por isso, ele contrata o narrador-personagem como seu médico-assistente
e se exila em um sítio no interior de Minas Gerais. A partir daí, acompanhamos
a relação conturbada dos dois.
Os contos não possuem clímax e
talvez, por isso, não tenham me impactado tanto. Apesar disso, eles levantam temas
importantes e apresentam situações que nos levam à reflexão. Esses 8 contos merecem
ser lidos e Rodrigo M. F. Andrade precisa sair da obscuridade.
Autor: Rodrigo M. F. Andrade
País: Brasil
Editora: Cosac Naify
Páginas: 143
Ano: 2004
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