segunda-feira, 21 de maio de 2018

No Cinema: 7 filmes em 1 semana


Decidi assistir Entre os dias 29 de abril e 05 de maio a filmes dos anos 80 ou 90. Seria uma semana de filmes, sendo 1 filme por dia. Então selecionei os sete filmes a partir de algumas sugestões e levando em conta filmes aclamados que eu ainda não havia visto ou não havia terminado de ver ou já havia esquecido da história. Com a lista dos filmes determinada, fiz uma postagem na página do blog no facebook e em meu perfil pessoal convidando as pessoas a participarem. Alguns amigos toparam fazer a maratona e ao longo da semana assistimos aos filmes. Agora chegou a hora de comentar sobre cada um deles.


O Feitiço de Áquila foi o primeiro escolhido. Eu havia assistido a esse filme na infância e não me lembrava quase nada dele, além da trama básica do casal que não podia ser feliz por causa de uma maldição que os impedia de ficar juntos. Durante o dia, Isabeau se transforma em falcão, enquanto Navarre, seu amado, é humano. Quando anoitece, Navarre assume a forma de um lobo e Isabeu volta a sua forma humana. Nas formas animais, eles não têm consciência de quem são e também não são capazes de reconhecer seus amados. Uma coisa interessante é que o personagem que mais me encantou nesse filme, Phillippe Gaston, interpretado por Matthew Broderick, havia sido apagado completamente da minha memória. Eu nem mesmo me lembrava que ele existia. Gaston é o personagem que faz a história se movimentar, apesar de inicialmente não ter nenhuma relação com a maldição do casal. Não há maiores explicações sobre a maldição, sabemos apenas que foi rogada pelo Bispo de Áquila. Assim é o sobrenatural no filme. Apesar de inexplicável, não parece ser encarado como algo tão absurdo e incomum. Outro ponto que eu não poderia deixar de mencionar é que o dilema do Bispo lembra o do Juiz Frollo de "O Corcunda de Notre Dame" da Disney. Enquanto Frollo é obcecado por Esmeralda, o Bispo é doentiamente fascinado por Isabeau.


A Morte lhe Cai Bem foi o segundo filme. Lembrava-me de já ter visto esse filme em algum momento nebuloso no Cinema em Casa do SBT. De algumas coisas eu ainda me recordava, mas acabei descobrindo que, na verdade, eu não me lembrava de quase nada. O embate entre Madeline (Meryl) e Helen (Goldie) é hilário, bizarro e perturbador, recheado de cenas improváveis que podem soar de mal-gosto para os desavisados. Embora o humor negro esteja presente em grande parte do filme, é quase impossível manter-se insensível diante das atrocidades pelas quais as personagens passam. Temos discursos claros como a crítica à busca exagerada pela beleza e ao preço alto que algumas pessoas são capazes de pagar para que tenham um pouco de sua juventude preservada (ou restabelecida, como no filme), temos o retrato de personagens que anularam suas vidas em prol de suas obsessões. Na primeira parte do filme, pensei que teríamos um embate entre uma mocinha injustiçada e uma vilã maquiavélica, que o filme retrataria uma história de vingança (Madeline vs Helen). No entanto, o que temos é o confronto de duas vilãs no estilo de amigas e rivais.


O terceiro filme foi Um Sonho de Liberdade. Sempre quis ver esse filme! Mas por alguma força sobrenatural não havia conseguido até essa bendita terça-feira. Gostei muito dele e concordo com todos os elogios que já ouvi. Os personagens são cativantes, a história de superação é empolgante e ver os antagonistas se dando mal é MUITO gratificante. Uma das discussões que o filme propõe que mais chamou minha atenção foi acerca das pessoas que perdem seu vínculo com o mundo do lado de fora dos presídios e como aquele pequeno universo à parte do mundo externo se torna toda a sua realidade. Os valores do mundo exterior, os papéis sociais, os empregos, as ligações familiares, o valor do dinheiro, tudo isso se perde ou se reconfigura, segundo as leis, necessidades e possibilidades da cadeia. Lá dentro, há um pequeno novo mundo e, quando se passa muito tempo nele, o mundo de fora é que se torna inóspito, confuso e selvagem. Os detentos constroem novas vidas nas cadeias e quando lhes é permitido deixar aquele lugar, o que deveria ser uma grande bênção, acaba por se tornar uma maldição. Eles são obrigados a encarar um mundo exterior do qual eles não fazem mais parte. O medo de ser livre outra vez.


No dia primeiro de maio foi a vez de Tudo Sobre Minha Mãe. Esse filme caiu como uma bomba no meio da semana. Um filme do Almodóvar que demonstra toda a mágica desse diretor incrível. Essa mágica que costura personagens inteiros e humanos, que brinca, embaralha e expõe preconceitos escondidos, que surpreende com a praticidade como os personagens lidam com situações possivelmente complexas. Esse filme nos faz refletir sobre nossa (ou minha) incansável vontade de organizar, classificar e lidar com a vida como se fosse algo que pudéssemos controlar e compreender perfeitamente. Tudo Sobre Minha Mãe grita em nossos ouvidos que a vida é um caos, a vida é improvável. Viver é fazer o melhor com o que temos agora, viver bem é enxergar o mundo com toda a simplicidade que pudermos. A simplicidade é a melhor forma de passear e viver no caos. Gostaria de pontuar o que foi para mim uma das melhores e mais gostosas cenas do filme. O momento em que temos uma mãe meio sem rumo, uma freira grávida, uma travesti maluquinha e uma atriz famosa porém amorosamente frustrada dividindo uma garrafa de bebida (a grávida não bebeu). Almodóvar, obrigado.


O Quinto filme foi Forrest Gump. Desconheço um filme que reúna tantos elementos que me desagradam: 1) futebol americano; 2) campo de combate na guerra; 3) barco e pescaria; 4) corrida interminável por todo o país. Apesar de todas as previsões de que o filme da quinta-feira seria um fiasco, gostei muito dele. Há várias questões interessantes e a forma como Forrest encara a vida é inspiradora. Ele não entende a vida (e quem entende?), mas vive da melhor forma que pode. Há vezes em que as coisas dão certo e outras em que tudo dá errado. Forrest tem uma força de vontade inabalável, que nem mesmo a guerra, a morte, o fracasso ou a incerteza acerca do futuro são capazes de minar. Forrest também têm uma quase infinita simplicidade. Ele se importa mais com o presente. Passado e futuro não são esquecidos, mas a pergunta que ele sempre busca responder é "e agora?". O agora, o que está acontecendo, o presente.


Na sexta tivemos O Cemitério Maldito. Que  filme inquietante! Filmes de terror antigos possuem um clima diferente. Eles transmitem um desconforto incomum, algo que incomoda. Não sei explicar ao certo, mas esse filme me pegou com esse ar indigesto, grotesco, estranho. Digo que é um filme difícil de mastigar, é desagradável. O desespero do pai para salvar seu filho da morte, mesmo sabendo das consequências que isso poderia ter, é muito interessante. A parte sobrenatural endossa a inquietude do filme. O tal cemitério existe e fim. Ele é assim e fim. Não há explicações, nem tempo para que algumas coisas sejam questionadas. Achei algumas coisas meio pesadas, por exemplo, o filho demoníaco revivido no cemitério é sádico e debocha de suas vítimas. Certamente esse garotinho vai para o seleto rol de crianças endemoniadas, assassinas e do mau. Outro ponto que eu gostaria de destacar é o quanto o vizinho que mora do outro lado da rodovia me incomodou. Eu jurava que ele seria o assassino ou o capeta ou algo assim. De alguma forma, foi ele quem plantou a semente do cemitério maldito no pai e o medo se encarregou de regá-la. Fica uma lição para a vida: reviver pessoas enterrando-as num cemitério indígena não é uma solução viável.


Por último, Magnólia. Mais de 3 horas! Que personagem escroto! Mas que filme extraordinário! Um filme com várias histórias que se esbarram apenas levemente, no entanto, todas possuem personagens que estão no limite. Os personagens de "Magnólia" parecem estar vivendo já há algum tempo em uma situação delicada, um equilíbrio ilusório. Parece que todos suportaram situações, tensões, incertezas, frustrações, medos, abusos durante muito tempo e não cabe mais nada, não aguentam nem mais 1 minuto. Todo aquele peso está por um triz de explodir. É pesado, é triste, é real. Ver o sofrimento físico, emocional e psicológico daqueles personagens, ver a luta solitária, muitas vezes silenciosa, que eles travam, que, muitas vezes, nós mesmos também travamos, é pesado, nos esmaga. Apesar de abordar essa trajetória até o desesperador momento em que as vidas das pessoas explodem (quase literalmente), o filme vai além. "Uma chuva de sapos". As coisas não acabam quando explodimos, quando caímos, quando nos desequilibramos. Magnólia mostra isso, que o momento em que perdemos o controle por não suportar mais é a possibilidade de um novo equilíbrio, possivelmente mais fácil de suportar.

Esses foram os 7 filmes dessa semana de filmes. Espero poder fazer outras maratonas e trazer mais comentários sobre os filmes.

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