Estava perdido em uma prateleira
daqui de casa o livro Histórias para Crianças, do autor polonês Isaac Bashevis
Singer. Eu não sabia muito sobre esse livro quando o comprei em uma feira de
livros, não custou mais do que 10 reais, foi um daqueles casos de amor pela capa e pelo título, e mesmo hoje, depois de tê-lo há
alguns anos na estante, ainda não sei muito sobre ele e nem sobre o
autor. Contudo, motivado pela vontade de fazer algo como "ler um conto
curto por dia", decidi dar um pouquinho de atenção para o senhor Singer.
O primeiro passo foi ler as orelhas do livro e as surpresas vieram uma atrás da outra. Isaac Bashevis Singer foi ganhador do
prêmio Nobel de Literatura em 1978. Eu tenho uma velha e, talvez,
injustificada vontade de conhecer mais autores ganhadores do Nobel e ler esse seria uma oportunidade ímpar para alimentar um pouco essa vontade. Além disso, Singer me chamou a atenção pois é o único ganhador do Nobel a escrever em iídiche, uma língua
pouco falada e utilizada por comunidades de judeus. Há, na orelha, uma pequena
transcrição do discurso feito por Singer ao aceitar o Nobel. Nesse discurso, ele
enumera, com muito humor, os motivos pelos quais ele escreve em iídiche. O primeiro motivo é que não haveria uma
língua melhor para escrever histórias de fantasma do que uma língua moribunda
(sim, ele escreve histórias sobre fantasmas e ele chama sua própria língua de moribunda). "Quanto mais morta for a
língua, mais vivo fica o fantasma". O segundo seria pela necessidade de
manter lançamentos em iídiche, caso algum defunto que fale iídiche se levante de
seu túmulo e procure por alguma publicação mais recente. Por último, ele menciona
o fato de o iídiche, mesmo sendo considerada por muitos uma língua quase morta, continua
sendo sua língua materna. "É minha língua materna, e uma mãe nunca está
realmente morta".
Passado o baque da surpresa
acerca do autor, vamos aos seus escritos. Singer é reconhecido por seus
romances, como A Família Moskat (1950), O Mágico de Lublin (1960) e O Golem
(1982), entre vários outros. Suas obras para crianças se resumem a contos e o
livro que tenho em mãos compila suas principais obras infantis. Depois que decidi ler
o livro, minha primeira preocupação foi sobre a tradução, afinal de contas,
originalmente, as histórias foram escritas em iídiche. Descobri que foi o
próprio autor quem traduziu os contos para o inglês
e, posteriormente, foram traduzido por Wladir Dupont para o português. Fiquei mais tranquilo. Ainda na
orelha do livro há uma transcrição de um pronunciamento de Singer que foi feito
durante o banquete de gala do prêmio Nobel. Nele, Singer fala sobre as razões
que o levaram a escrever também para crianças. Segue a transcrição de 10 dessas razões.
- Crianças leem livros e não resenhas. Elas não dão a menor bola para os críticos.
- Crianças não leem para encontrar sua identidade.
- Elas não leem para se sentir livres de culpa, para aplacar sua sede de revolta, ou para fugir da alienação.
- Elas não veem utilidade na psicologia.
- Elas detestam sociologia.
- Elas não tentam entender Kafka ou o Finnegans Wake.
- Elas continuam acreditando em Deus, na família, anjos, demônios, bruxas, duendes, clareza, lógica, pontuação e outras coisas obsoletas como essas.
- Elas amam histórias interessantes, e despreza comentários, explicações e notas de rodapé.
- Quando um livro é chato, elas bocejam descaradamente, sem qualquer vergonha ou medo de autoridade.
- Elas não esperam que seu amado escritor redima a humanidade. Embora muito novas, as crianças sabem que ele não tem esse poder. Só os adultos alimentam ilusões tão infantis.
O que dizer sobre esse autor? Já
fiquei encantando lendo apenas a orelha do livro. Isso foi mais do que a
confirmação de que eu leria os contos do Histórias para Crianças. Decidi que
leria aos poucos, não mais do que um conto por dia e, talvez, não lesse todos
os dias. O ritmo seria ao acaso e a única certeza era de que eu leria todos. Naquele
mesmo dia, eu li o primeiro conto e já pude formular algumas coisas sobre os
outros contos que viriam. Percebi que seriam histórias parecidas com aquelas
que contadores de histórias nos contam, narrativas muito simples, bem humoradas
e com aquela mecânica de construir a história a partir de elementos que se
repetem (3 tentativas, 3 desejos, 3 crianças, 3 caminhos, 3 porquinhos). Percebi
também que os contos envolveriam muitos elementos da cultura do interior da Polônia (há até mesmo um glossário com algumas coisas que aparecem e não são comuns para nós) e contariam com uma forte influência religiosa.
Então, irei listar aqui os contos
à medida em que a leitura for avançando e farei comentários eventuais sobre
alguns deles.
Os anciãos de Chem e a chave de Genendel
- página 13 à 17 - leitura em 27 de março de 2018
Um conto de três desejos - página
18 à 23 - leitura em 29 de março de 2018
As luzes apagadas - página 24 à 30 - leitura em 30 de março de 2018. Esse foi o primeiro conto de fantasma. Segundo o próprio autor, ele adora escrever histórias de fantasmas.
Mazel e Shlimazel - página 31 à 47 - leitura em 03 de abril de 2018. Conto mais longo até agora e o mais interessante. Nele, acontece uma aposta entre o espírito da boa sorte (Mazel) e o espírito da má sorte (Shlimazel). A aposta consistia em Shlimazel, em um segundo, destruir o próspero trabalho de um ano de Mazel, Para tal, Shlimazel não poderia usar de suas técnicas usuais, como assassinatos, doenças e guerras. Então, tendo os termos da aposta definidos, Mazel escolhe um camponês comum e começa a transformar a vida dele com uma espantosa boa sorte. Acompanhamos a vida do camponês melhorando sob a influência de Mazel até o derradeiro fim do ano de bonança, acordado pelos espíritos, e a chegada do momento, que duraria apenas um segundo, em que Shlimazel destruíria tudo o que Mazel havia proporcionado ao camponês. Assim, temos o desfecho da aposta e um suposto vencedor, no entanto, a história continua um pouco mais, revelando alguns acontecimentos inusitados, cheios de esperteza e coincidência, que sucederam à aposta.
Por que Noé Escolheu A Pomba - página 48 à 51 - leitura em 23 de abril de 2018
As luzes apagadas - página 24 à 30 - leitura em 30 de março de 2018. Esse foi o primeiro conto de fantasma. Segundo o próprio autor, ele adora escrever histórias de fantasmas.
Mazel e Shlimazel - página 31 à 47 - leitura em 03 de abril de 2018. Conto mais longo até agora e o mais interessante. Nele, acontece uma aposta entre o espírito da boa sorte (Mazel) e o espírito da má sorte (Shlimazel). A aposta consistia em Shlimazel, em um segundo, destruir o próspero trabalho de um ano de Mazel, Para tal, Shlimazel não poderia usar de suas técnicas usuais, como assassinatos, doenças e guerras. Então, tendo os termos da aposta definidos, Mazel escolhe um camponês comum e começa a transformar a vida dele com uma espantosa boa sorte. Acompanhamos a vida do camponês melhorando sob a influência de Mazel até o derradeiro fim do ano de bonança, acordado pelos espíritos, e a chegada do momento, que duraria apenas um segundo, em que Shlimazel destruíria tudo o que Mazel havia proporcionado ao camponês. Assim, temos o desfecho da aposta e um suposto vencedor, no entanto, a história continua um pouco mais, revelando alguns acontecimentos inusitados, cheios de esperteza e coincidência, que sucederam à aposta.
Por que Noé Escolheu A Pomba - página 48 à 51 - leitura em 23 de abril de 2018
Título: Histórias para Crianças
Título Original: Stories for Children
Título Original: Stories for Children
Autor: Isaac Bashevis Singer
País: Polônia
Editora: Topbooks
Páginas: 339
Ano: 2009
Que coisa linda!
ResponderExcluirEsse livro é lindão mesmo. ^^
ExcluirOlá amigo. Estou a procura deste livro, para ler para minhas filhas. Teria interesse em me vender o seu exemplar? Deixo meu contato: (11) 94916 0430. Obrigado.
ResponderExcluirEstou a procura desse livro e não encontro. Adorei ler seu texto sobre ele.
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