quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

No Cinema: Lady Bird - É Hora de Voar


Lady Bird - É Hora de Voar foi o terceiro filme da minha maratona do Oscar 2018. E é, sem dúvida, um filme diferente dos outros dois que assisti, no sentido de contar uma história simples sobre a adolescência e suas controvérsias. No filme, acompanhamos um pouco da vida de nossa protagonista Lady Bird. Ela é uma adolescente de 17 anos com uma personalidade forte e impetuosa que luta com determinação para escapar de Sacramento, cidade em que sua família e, por conseguinte, ela mesma está enraizada. Para ela, sair de Sacramento significa muito mais do que apenas deixar a casa de seus pais para estudar, mas um passo decisivo que pode mudar sua vida de uma vez por todas e fazer com que ela redescubra a si mesma. Ao entrar no último ano do ensino médio e com o sonho de cursar uma faculdade na costa leste, longe de sua cidade, Christine "Lady Bird" McPherson vai usar todas as suas artimanhas para finalmente alcançar o futuro que tanto deseja.  Além da expectativa acerca de sua entrada na faculdade, ela vai ter um ano cheio de emoções, frustrações e conflitos.


Lady Bird não tem a pretensão de contar uma história extraordinária, mas a de,  por meio da vida de Christine, retratar uma parte do cotidiano de nós mesmos, dos que já passaram ou ainda estão na adolescência. Um sentimento de identificação e nostalgia permeia todo o filme, como se aquela história tivesse se passado há algum tempo, mas não muito tempo, talvez, ela tenha ocorrido algumas semanas atrás ou há alguns poucos anos. Pareceu-me que todos os personagens, sobretudo a Lady Bird, encontram-se naquele momento da adolescência em que pensamos que todas as nossas vidas se resumem àquelas decisões, que as nossas vidas serão para sempre aquela sensação esmagadora de incompletude e que, talvez, o mundo possa se romper, caso não consigamos alcançar tudo o que sonhamos para nós mesmos nos próximos dez segundos. Vemos as ações dos personagens guiadas pela urgência de satisfação ou pela cegueira temporária da adolescência que não nos faz enxergar que as coisas, nós mesmos e nossas famílias não são, na verdade, ruins como julgamos.


Já que Lady Bird não possui uma história extraordinária, o que faz dele um filme interessante? A resposta é simples, a forma como Gerwig contou uma história comum, cotidiana, é que fez toda a diferença. Os diálogos são certeiros e bem humorados, as cenas são irreverentes e até um pouco desconcertantes e os personagens secundários emprestam um pouco de suas próprias histórias para desenhar as margens por onde o filme e a vida de Lady Bird é conduzida. Talvez, algumas pessoas irão se decepcionar com Lady Bird, especialmente, por ele não consistir de um filme que irá proporcionar uma experiência libertadora de deleite ou por ele não se estruturar a partir de uma sucessão de acontecimentos que culminam em algo espetacular. Lady Bird caminha no sentido contrário, no de inquietar a partir do banal, no de nos fazer refletir sobre conflitos familiares, sobre os dramas do cotidiano, sobre o egoísmo, sobre as decepções por não alcançar pequenos objetivos, sobre o amor que muitas vezes deixamos de perceber que é dado a nós.


Entre os diversos conflitos pelos quais acompanhamos Christine é o embate com a mãe que acaba por se tornar o mais delicado e interessante. Desde a primeira cena, em que vemos uma conversa ora amigável, ora ríspida entre as duas no carro, percebemos o quanto elas são parecidas e que esse é o principal motivo de haver tanto atrito entre elas. Esses confrontos rendem cenas memoráveis que oscilam entre momentos tocantes e outros de ironia e comédia, essas variações refletem muito bem o quanto as personagens são temperamentais e seus humores parecem flutuar e colidir com o da outra. As atrizes estão incríveis em seus papéis (Saoirse Ronan e Laurie Metcalf) e conseguiram dosar muito bem o conflito e demonstrar, com suas interpretações, as contradições e as concessões que figuram sob os conflitos familiares, sobretudo sob os desentendimentos ente mãe e filha.


Por fim, gostaria de dizer que Lady Bird não mostra, que ele não apresenta diretamente o seu discurso. Ele é um filme cru, essencialmente cru. Somos nós que precisamos emprestar-lhe um pouco de nosso olhar, de nossas próprias experiências para que a complexidade da história se concretize. Lady Bird merece ser visto por cada um e que cada um possa encontrar e reconhecer na história de Christine McPherson a sua própria verdade.


Título: Lady Bird: É Hora De Voar
Título Original: Lady Bird
Direção: Greta Gerwig
Ano: 2017 (2018 no Brasil)
Duração: 1h 34min
Elenco Principal: Saoirse Ronan (Lady Bird McPherson), Laurie Metcalf (Marion McPherson), Tracy Letts (Larry McPherson),  Lucas Hedges (Danny O'Neil), Timothée Chalamat (Kyle  Scheible) e  Beanie Feldstein (Julie Steffans)






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