Filme de guerra (acho que até existe
uma categoria especial de filmes com esse tema, né?). Minha relação com eles nunca foi
muito próxima. Sempre hesitei em assisti-los, mesmo aqueles que são
considerados, quase unanimemente, filmes maravilhosos, como O Resgate do Soldado
Ryan e A Lista de Schindler. Apesar disso ser uma realidade pra mim, a de não me empolgar muito com filmes de guerra, não convém julgá-los como se todos fossem iguais. Filmes que retratam consequências de guerras (ou seus
antecedentes), o quanto ela influenciou as pessoas e as tramas e intrigas que
constituíram o conflito em questão me interessam mais. Ao passo que o campo de combate, a peleja dos soldados, aquele caos de tiros e explosões não me cativa. Acho que Dunkirk se encaixa em uma zona intermediária, em que
encontramos uma boa dose de sofrimento e confusão do campo de batalha, mas também a tensão pós-combate, em que observamos as consequências imediatas para as pessoas que de
alguma forma se envolveram na guerra.
O filme situa-se em um momento
controverso da Segunda Guerra Mundial em que as forças aliadas, francesa e inglesa, foram cercadas
pelas tropas alemãs nas praias de Dunkirk. Assim, os soldados encurralados tiveram que
esperar pela ineficiente operação de evacuação. Com esse panorama, o filme se estrutura em
três narrativas. A primeira foca em um grupo de soldados, entre milhares de
outros, que está esperando ser resgatado pelos navios militares ingleses. Eles estão desnorteados e debilitados, encurralados e sendo alvo de tiros e bombardeios aéreos. Cada momento que acompanhamos
de luta pela sobrevivência é angustiante. Eles são capazes de qualquer coisa, de qualquer
ato desesperado para escapar dali. Vemos momentos em que o primitivo e
verdadeiro extinto de sobrevivência assume total controle daqueles soldados. A segunda narrativa, também envolvendo a
guerra diretamente, trata de uma perseguição áerea, numa região próxima de Dunkirk.
A terceira narrativa aborda o recrutamento de barcos civis para auxiliar no
resgate, pois os navios militares não serão o bastante. Ao ter seu barco de passeio solicitado, um senhor decide que ele mesmo
comandaria a embarcação na missão e leva consigo o filho e um amigo. As
três narrativas ocorrem quase simultaneamente, desenvolvem-se de forma
semelhante, compartilhando momentos de lentidão e também os de tensão, e convergem para o momento em
que o resgate dos soldados ocorre de fato.
Sobre as três narrativas paira a busca pela sobrevivência de si mesmo ou do outro. Ela é a força que move a história e une as narrativas, mesmo quando elas ainda estão distantes espacialmente. Os personagens perdem seus nomes no caos, alguns no ambiente caótico da guerra em si, outros no clima aterrador e inseguro que se instalou em toda parte. São apenas desconhecidos lutando para sobreviver ou para possibilitar que o outro sobreviva, são pessoas agindo da melhor forma que a situação crítica lhes permite, guiando-se apenas por uma força que os faz lutar incansavelmente pela vida. Não há armas, não há patriotismo, não há uniforme, não há orgulho e nem glória, a sobrevivência é egoísta e urgente. Quando ela é ameaçada, as pessoas tornam-se inabaláveis e capazes de coisas incríveis e horríveis. Há um momento interessante no filme, já mais próximo do final, dois soldados sobreviventes conversam, um pouco temerosos, sobre como seria a recepção deles em suas cidades. Eles se questionam: há alguma glória em sobreviver? Manter-se vivo, escapar, significa vencer? As dúvidas dos personagens não demoram a ser sanadas e a vitória, por meio da sobrevivência, triunfa.
Dunkirk é um filme de guerra. No entanto,
ele não trata diretamente do campo de combate, mas de uma situação pós-conflito e também retrata o envolvimento de civis na guerra. Ao mesmo tempo que tenta fazer com que nos aproximemos dos
personagens e nos sintamos tão presos, encurralados quanto eles, Dunkirk nos
entrega personagens principais quase completamente anônimos, como se fossem representantes
escolhidos aleatoriamente entre os vários personagens que possivelmente
tiveram o mesmo papel na história, entre os civis, entre os soldados e entre os
pilotos. A luta pela sobrevivência norteia todo o filme.
Enquanto alguns personagens se esforçam ao máximo para preservar suas próprias vidas,
outros buscam contribuir para a sobrevivência dos outros. Embora o filme não
tenha me cativado e, apesar da violência a que são submetidos e do sofrimento de alguns personagens,
não consegui me emocionar. Quanto às questões técnicas, a linguagem cinematográfica empregada no filme é seca e sisuda, a harmonia entre as três narrativas atribui um ritmo instigante à história, o tom realista e as cores desbotadas fazem da experiência de assisti-lo algo muito interessante.
Pensando sobre o filme, veio me a reflexão de que, no final das contas e apesar de tudo, só queremos sobreviver. Mas de onde vem essa vontade tão forte de continuarmos vivos?
Pensando sobre o filme, veio me a reflexão de que, no final das contas e apesar de tudo, só queremos sobreviver. Mas de onde vem essa vontade tão forte de continuarmos vivos?
Dados Técnicos:
Título: Dunkirk
Título: Dunkirk
Título Original: Dunkirk
Direção: christopher Nolarn
Ano: 2017
Duração: 1h 46min
Esse filme foi tão necessário para a história. A teoria de Dunkirk é muito esplêndida. Sobre ser um filme com linguagem seca e sisuda , eu acho que apenas refletiu na realidade que o filme quis retratar.
ResponderExcluirAdorei a crítica.
Estou aqui revendo algumas postagens do blog e encontrei esse seu comentário que eu não havia respondido. Agora, com o notebook, poderia lidar melhor com o blog. Obrigado por ter lido e comentado. Fiquei com vontade de reassistir ao filme.
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