quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

No Cinema: Dunkirk


Filme de guerra (acho que até existe uma categoria especial de filmes com esse tema, né?). Minha relação com eles nunca foi muito próxima. Sempre hesitei em assisti-los, mesmo aqueles que são considerados, quase unanimemente, filmes maravilhosos, como O Resgate do Soldado Ryan e A Lista de Schindler. Apesar disso ser uma realidade pra mim, a de não me empolgar muito com filmes de guerra, não convém julgá-los como se todos fossem iguais. Filmes que retratam consequências de guerras (ou seus antecedentes), o quanto ela influenciou as pessoas e as tramas e intrigas que constituíram o conflito em questão me interessam mais. Ao passo que o campo de combate, a peleja dos soldados, aquele caos de tiros e explosões não me cativa. Acho que Dunkirk se encaixa em uma zona intermediária, em que encontramos uma boa dose de sofrimento e confusão do campo de batalha, mas também a tensão pós-combate, em que observamos as consequências imediatas para as pessoas que de alguma forma se envolveram na guerra.


O filme situa-se em um momento controverso da Segunda Guerra Mundial em que as forças aliadas, francesa e inglesa, foram cercadas pelas tropas alemãs nas  praias de Dunkirk. Assim, os soldados encurralados tiveram que esperar pela ineficiente operação de evacuação.  Com esse panorama, o filme se estrutura em três narrativas. A primeira foca em um grupo de soldados, entre milhares de outros,  que está esperando ser resgatado pelos navios militares ingleses. Eles estão desnorteados e debilitados, encurralados e sendo alvo de tiros e bombardeios aéreos. Cada momento que acompanhamos de luta pela sobrevivência é angustiante. Eles são capazes de qualquer coisa, de qualquer ato desesperado para escapar dali. Vemos momentos em que o primitivo e verdadeiro extinto de sobrevivência assume total controle daqueles soldados. A segunda narrativa, também envolvendo a guerra diretamente, trata de uma perseguição áerea, numa região próxima de Dunkirk. A terceira narrativa aborda o recrutamento de barcos civis para auxiliar no resgate, pois os navios militares não serão o bastante. Ao ter seu barco de passeio solicitado, um senhor decide que ele mesmo comandaria a embarcação na missão e leva consigo o filho e um amigo. As três narrativas ocorrem quase simultaneamente, desenvolvem-se de forma semelhante, compartilhando momentos de  lentidão e também os de tensão, e convergem para o momento em que o resgate dos soldados ocorre de fato.










Sobre as três narrativas paira a busca pela sobrevivência de si mesmo ou do outro. Ela é a força que move a história e une as narrativas, mesmo quando elas ainda estão distantes espacialmente. Os personagens perdem seus nomes no caos, alguns no ambiente caótico da guerra em si, outros no clima aterrador e inseguro que se instalou em toda parte. São apenas desconhecidos lutando para sobreviver ou para possibilitar que o outro sobreviva, são pessoas agindo da melhor forma que a situação crítica lhes permite, guiando-se apenas por uma força que os faz lutar incansavelmente pela vida. Não há armas, não há patriotismo, não há uniforme, não há orgulho e nem glória, a sobrevivência é egoísta e urgente. Quando ela é ameaçada, as pessoas tornam-se inabaláveis e capazes de coisas incríveis e horríveis. Há um momento interessante no filme, já mais próximo do final, dois soldados sobreviventes conversam, um pouco temerosos, sobre como seria a recepção deles em suas cidades. Eles se questionam: há alguma glória em sobreviver? Manter-se vivo, escapar, significa vencer? As dúvidas dos personagens não demoram a ser sanadas e a vitória, por meio da sobrevivência, triunfa.


Dunkirk é um filme de guerra. No entanto, ele não trata diretamente do campo de combate, mas de uma situação pós-conflito e também retrata o envolvimento de civis na guerra. Ao mesmo tempo que tenta fazer com que nos aproximemos dos personagens e nos sintamos tão presos, encurralados quanto eles, Dunkirk nos entrega personagens principais quase completamente anônimos, como se fossem representantes escolhidos aleatoriamente entre os vários personagens que possivelmente tiveram o mesmo papel na história, entre os civis, entre os soldados e entre os pilotos. A luta pela sobrevivência norteia todo o filme. Enquanto alguns personagens se esforçam ao máximo para preservar suas próprias vidas, outros buscam contribuir para a sobrevivência dos outros. Embora o filme não tenha me cativado e, apesar da violência a que são submetidos e do sofrimento de alguns personagens, não consegui me emocionar. Quanto às questões técnicas, a linguagem cinematográfica empregada no filme é seca e sisuda, a harmonia entre as três narrativas atribui um ritmo instigante à história, o tom realista e as cores desbotadas fazem da experiência de assisti-lo algo muito interessante.

Pensando sobre o filme, veio me a reflexão de que, no final das contas e apesar de tudo, só queremos sobreviver. Mas de onde vem essa vontade tão forte de continuarmos vivos?


Dados Técnicos:

Título: Dunkirk
Título Original: Dunkirk
Direção:  christopher Nolarn
Ano: 2017
Duração: 1h 46min



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2 comentários:

  1. Esse filme foi tão necessário para a história. A teoria de Dunkirk é muito esplêndida. Sobre ser um filme com linguagem seca e sisuda , eu acho que apenas refletiu na realidade que o filme quis retratar.
    Adorei a crítica.

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    Respostas
    1. Estou aqui revendo algumas postagens do blog e encontrei esse seu comentário que eu não havia respondido. Agora, com o notebook, poderia lidar melhor com o blog. Obrigado por ter lido e comentado. Fiquei com vontade de reassistir ao filme.

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