quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

No Cinema: Corra!


O quinto filme da maratona foi Corra! (Get Out, no original). Ele foi lançado já há algum tempo, mas acabei vendo só durante a maratona. Por isso, eu já sabia alguma coisas sobre o filme. A primeira informação era que tratava-se de um filme tenso de roer as unhas. Na verdade, não foram exatamente os comentários das pessoas  que me fizeram descobrir isso, pois os cartazes do filme já transmitiam muito bem essa ideia. Outra coisa que ouvi muitas pessoas dizendo era sobre a qualidade do filme. Não foram poucas as vezes em que vi nas redes sociais "filme do ano!" ou "maravilhoso!". Com tantas opiniões positivas, como não deixar a expectativa sair do controle? Deixar a empolgação passar, é claro. Depois de alguns meses, os elogios não estavam mais tão fresco e consegui assisti ao filme com um pouco mais de neutralidade. E isso fez muito bem para minha experiência.


O filme conta a história de um casal de namorados que decide passar o final de semana na casa dos pais da garota. Poderia ser um final de semana tenso só pelo fato de o namorado conhecer a família de sua namorada? Sim, poderia, entretanto, há algumas questões que deixam Chris um pouco mais inseguro. Além de ser o grande momento em que conheceria a família de Rose, há o fato de ele ser negro e a família dela ser branca, tradicional e conservadora. Apesar de ela afirmar convictamente que ninguém da família é racista e que receberiam Chris muito bem, ele, mesmo concordando em ir, continua desconfortável. A visita prossegue e, já na viagem, começam a acontecer coisas estranhas. A família de Rose é amigável e cheia de boa vontade, porém é estranha; os funcionários da casa são simpáticos, porém estranhos; a casa é linda, porém estranha; os amigos da família se esforçam para parecer legais, mas são inteiramente estranhos. A estranheza está por toda parte e, aos poucos, várias situações bizarras começam a acontecer. Toda aquela bizarrice vai se adensando e até mesmo pessoas em quem Chris acreditava poder contar, começam a se envolver numa espécie de plano do qual só ele não faz parte. Tudo isso, os diálogos improváveis, as suspeitas, as atitudes incoerentes, culminam em eventos desesperadores e doentios, os responsáveis por nos fazer, quase literalmente, roer as unhas. Chris descobre que, talvez, ele fosse a parte mais importante do plano.


Corra! foi vendido como um filme de terror sobre racismo, no entanto, ele não consegue se aprofundar nesse ponto. Temos situações em que questões racistas são levantadas, como na festa em que Chris é apresentado para a pequena sociedade privada, rica e de brancos da qual os pais de Rose parecem ser os líderes. No entanto, apesar de serem pertinentes, o filme não as desenvolve de forma eficiente e, com um evento que ocorre perto do desfecho, elas me apareceram ainda mais desestruturadas. Apesar de não serem elaboradas com a perspicácia que mereciam, vemos diversas cenas desconcertantes em que os convidados da tal festa tentam provar-se não-racistas e, mesmo soando um pouco absurdas, ainda mais tratando-se daquelas pessoas bizarras, situações como aquelas acontecem frequentemente e muitas pessoas não percebem a gravidade desse tipo de postura (vide a fala: "até tenho amigos que são negros").


Por fim, digo que Corra! cumpre o que eu havia ouvido sobre ele antes de assisti-lo, pelo menos, a parte de que o filme seria de roer as unhas. É um filme tenso, um suspense que nos deixa curiosos para descobrir o que há por trás do comportamento anormal de seus personagens. No entanto, ele não cumpre satisfatoriamente o papel de abordar e criticar comportamentos racistas. As críticas estão lá, mas elas não são desenvolvidas da forma significativa que lhes caberia. Apesar de algumas inconsistências na narrativa, de revelações desnecessárias em momentos decisivos e de, ao meu ver, usar algumas soluções fáceis demais para alguns conflitos, o filme apresenta uma história envolvente e inquietante. Em geral, achei as atuações boas, gostaria de pontuar a atuação da atriz  Catherine Keeper, que faz Missy, mãe de Rose, que consegue transmitir uma sensação de calma e sobriedade, mas ao mesmo uma frieza e uma ausência de sentimentos, e também a atuação do protagonista Daniel Kaluuya que conseguiu fazer com que eu me sentisse tão encurralado e perdido quanto seu personagem. Corra! é um filme interessante, de um tipo que não costumamos ver entre os indicados ao Oscar, ainda mais na categoria de melhor filme. Só por isso já vale a pena a pena dar uma chance para ele. Depois de assistir ao filme fica clara a resposta à pergunta: a combinação de terror e discussões sobre o racismo é inusitada? Talvez, seja menos do que imaginemos à primeira vista. Não é preciso uma situação hipotética e fictícia para demonstra o quanto o racismo é nocivo. O racismo por si  mesmo já é um terror que assombra, aprisiona e tortura muitas pessoas.


Título: Corra!
Título Original:Get Out
Direção:  Jordan Peele
Ano: 2017
Duração: 1h 44min
Elenco Principal: Daniel Kaluuya (Chris Washington), Allison Williams (Rose:Armitage), Catherine Keener (Missy Armitage),  Caleb Landry Jones (Jeremy Armitage), Bradley Whitford (Dean Armitage)




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