terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Nas Páginas: O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação - Haruki Murakami

Decidi que meu primeiro livro do ano e primeiro do Haruki Murakami seria O Incolor Tsukuru Tazaki e Seus Anos de Peregrinação. Antes de iniciar a leitura, já estava intrigado sobre o que me aguardava, sobretudo,  por causa do título. Um título longo e com o nome de um personagem, provavelmente, do protagonista. Já comecei a leitura esperando que o Tsukuru fizesse uma viagem e seria uma longa peregrinação, pelo jeito. E, de alguma forma, acabei peregrinando com ele.

O livro conta a história de Tsukuru e tem como foco suas relações com o mundo e as pessoas. Enquanto adolescente, Tsukuru integrou um grupo de cinco amigos que possuíam um relacionamento muito próximo e singular. Os  cinco conviviam bastante, realizavam trabalhos voluntários juntos e eram quase inseparáveis. No entanto, depois de alguns anos de amizade, após deixar a cidade onde moravam para estudar, Tsukuru acabou sendo cortado do grupo, sem explicações e, aparentemente, sem qualquer ressentimento. Aquilo atingiu Tsukuru profundamente e acabaria  por influenciar toda sua vida. A partir daí, a trama acompanha a vida de Tsukuru em Tóquio, onde ele passara a morar definitivamente. São abordados alguns pontos como sua resignação diante dos problemas e a forma como essa perda delineou a forma como ele passa a enxergar a vida e seus relacionamentos. Depois de muitos anos e de nunca mais ter tido contato com seu antigo grupo de amigos, Tsukuru decide revirar o passado e descobrir a verdade por trás do acontecido. Então começa uma jornada de descoberta  e redenção, por meio da qual Tsukuru busca liberta-se daquele trauma ou, pelo menos, encontrar uma forma satisfatória de lidar com ele.


Gostaria de destacar três questões sobre a história e seus personagens. Em primeiro lugar, a complexidade do protagonista. Embora Tsukuru enxergue a si mesmo de forma muito prosaica, pessimista e muitas vezes injusta, as reflexões acerca de suas motivações são complexas e se sustentam sobre uma forma de pensamento diferente da ocidental. Ele é um personagem contido, de personalidade amena que foi moldada pela solidão, pela inaptidão social. Tsukuru tenta silenciosamente não ser devorado pelo vórtice implacável da vida moderna. Em segundo, gostaria de falar da forma como Tsukuru enxerga as pessoas e o mundo. Sob seus olhos, as pessoas são donas de  comportamentos e atitudes complicados e ele acaba por culpar a si mesmo pelas decepções que elas lhe dão. Frequentemente, a culpa recaí sobre sua suposta personalidade sem graça ou sua incapacidade de atrair e manter relacionamentos. Por fim, gostaria de destacar a forma como os personagens lidam com o sobrenatural. Embora ele apareça apenas indiretamente na trama, por meio de superstições, sonhos ou histórias, o sobrenatural acaba permeando os acontecimentos e atribui-lhes um véu de misticismo e mistério. Diante desse véu, os personagens não buscam incansavelmente compreendê-lo, como era de se esperar, mas lidar com o inexplicável da melhor forma possível, como se o sobrenatural fosse uma parte como qualquer outra de suas vidas.


Quando cheguei ao final dos anos de peregrinação de Tsukuru, compreendi que, assim como nossas próprias vidas, a história do livro também não possui explicação para cada acontecimento. Ela é apenas um recorte, um fragmento de algo intrincado e obscuro que constitui a existência daqueles personagens. A existência de cada um pode ser um grande mistério para o outro. Assim, não é possível entender tudo o que houve, nem os motivos por trás do que aconteceu, porque é uma história sobre pessoas, sobre como uma pessoa é capaz de se conectar, favorecer ou prejudicar outra.  No entanto, compreendemos que, apesar de não podermos enxergar toda a verdade, enxergamos quem é Tsukuru, podemos vislumbrar um pouco de sua existência.


Nesse romance, pode perceber que a escrita de Murakami é simples e consegue construir-se de maneira singular, por meio de expressões e metáforas peculiares. Espero sinceramente que ele use esse mesmo estilo de escrita em outros de seus livros. Já quanto à estrutura narrativa, ela se organiza de forma irregular, intercalando trechos que se passam num passado distante, outros num passado próximo e, a maior parte, no presente. Diante de tudo isso, posso dizer que foi um prazer ler Murakami. Uma história incomum construída sobre a complexidade de seus personagens.




Título: O incolor Tsukuru Tazari e Seus Anos de Peregrinação
Título Original: Shikisai O Motanai Tazaki Tsukuru To Kare No Junrei No Toshi
Autor: Haruki Murakami
Tradução: Eunice Suenaga
Editora: Alfaguara
Páginas: 328


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2 comentários:

  1. Que história triste, mas despertou-me interesse, essas histórias nos fazem bem.
    Dúvida: essas ilustrações são do livro?

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